Enquanto eu tento escrever, ao menos um linha que me agrade, há um mundo lá fora, só de imaginar que alguém chora, só de imaginar que alguém abraça seus joelhos tentando se proteger, só de imaginar que alguém morre, me dá mais vontade de viver. Não por estar, mas por ser, ver e fazer acontecer.
Enquanto eu tento escrever, meus olhos se fecham involuntariamente, lá fora chove e aqui eu choro. Eu busco algo em algum canto, e lá fora alguém busca um canto aqui dentro. Aquele velho senhor vai desistir e o pequeno jovem vai começar a roubar.
Enquanto eu tento escrever, alguém toca uma música pra aliviar-se, alguém aquece seu café pro sono não chegar, e outro alguém evita tomar pra insônia não vir morar.
Enquanto eu tento escrever, alguém soluça com alguma perda, alguém alimenta seu filho recém nascido, outro chora com seu filho desaparecido.
Enquanto eu tento escrever, alguém se revira na cama, alguém acorda com um pesadelo, aos prantos e em desespero. Alguém, como eu, busca escrever. Alguém espera o amanhecer, alguém irá acordar nele.
Alguém está nessa chuva, alguém chora nessa chuva, alguém foge dessa chuva, alguém busca essa chuva, alguém grita pra essa chuva, alguém morre por essa chuva, alguém soluça nessa chuva, alguém me inventa nessa chuva, alguém observa essa chuva, alguém pediu por essa chuva, alguém reclama dessa chuva, alguém escreve nessa chuva, alguém faz versos dessa chuva. Enquanto eu tento escrever.
Enquanto eu tento escrever, há um mundo lá fora, bilhões de lá e campo à fora, e eu apenas tento escrever e agora peço pra ir embora.